Em entrevista exclusiva, o presidente da Federação Palestina do Brasil, HASSAN EL EMLEH, analisa a crise em Israel e nos territórios ocupados após o massacre da Mesquita de Hebron, praticado por um judeu fanático em 25 de fevereiro.
JOSÉ ARBEX JR.- editor
Mundo - O professor Edward Said afirma que o presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), lasser Arafat, traiu a causa palestina, ao assinar o acordo de paz de setembro de 1993, que admite a permanência de colônias de judeus na Cisjordânia e Faixa de Gaza. O sr. concorda?
Hassan El Emieh - Não. Para haver um acordo, tem que haver renúncia em algumas questões para que se produzam ganhos em outras. Abu Amar (referência afetuosa a Arafat -NR) tem uma visão muito ampla.
Será que os que acusam Arafat de traição sentem a dor das famílias que tiveram suas casas destruídas pelo Exército israelense ou por colonos organizados em grupos paramilitares? Sentem a ameaça permanente da morte pairando sobre os membros da família? Qual país árabe ou islâmico jamais moveu um dedo pela Palestina? Estamos abandonando as perspectivas falsas propiciadas pela miopia ou retórica demagógica dos líderes árabes.
Mundo - O sr. poderia explicar isso melhor?
El EmIeh - Em geral, os líderes árabes são falsos.
Dizem que estão fazendo algo pela causa palestina e nada fazem. Usam um radicalismo vazio. Eles usam de demagogia para atacar Arafat.
Mundo - Mas como fica o problema concreto das colônias israelenses?
El EmIeh - Até agora, o governo israelense vem demonstrando que não foi sincero ao assinar o acordo.
Queremos uma paz justa, o regresso dos palestinos à sua terra, construir e reconstruir nossas casas, nossas propriedades. Para você ter uma idéia, depois do acordo as propriedades nos territórios ocupados foram valorizadas em três ou quatro vezes. Muitos palestinos fizeram projetos concretos para voltar, explorar o comércio, montar fábricas. Mas para que isso aconteça Israel tem que respeitar o acordo.
Mundo - Voltamos ao ponto inicial. Não terá sido um erro confiar na disposição de Israel?
El Emleh - Não havia outra saída. Em todo acordo tem que existir concessões. Pela primeira vez desde sua fundação, Israel reconheceu ser uma força de ocupação, e que está nos territórios com base na força militar e não por direito divino. Reconheceu a existência do povo palestino, e que esse povo tem certos direitos. O acordo provocou tudo isso. Nós estamos fazendo a nossa parte, mas saberemos ser duros, se necessário.
Mundo • O grupo fundamentalista Hamas está g a n h a n d o muito espaço, à medida que Arafat perde p r e s t í g i o .
Recentemente, os candidatos do Hamas venceram as eleições em v á r i o s sindicatos e a s s o c i a ç õ e s estudantis. Isso indica uma radicalização da Intifada (revolta das pedras em árabe -NR)?
El Emleh - Há muito exagero nisso tudo. O Hamas conta com o apoio de 18% ou, no máximo, de 20% da população palestina. É claro que a intransigência de Israel e acontecimentos como o massacre da mesquita de Hebron estão provocando descontentamento entre os palestinos, mas a liderança de Arafat é incontrastável. Além disso, nós não temos uma tradição de fanatismo religioso. Não há nenhum fanatismo islâmico. O Islã protegeu durante milênios o Santo Sepulcro e a Igreja de Belém, símbolos da cristandade, assim como manteve intacto o Muro das Lamentações do judaísmo. O chamado radicalismo islâmico é resultado da intransigência de Israel.
Mundo - Vamos voltar á questão das colônias...
El Emleh – Podemos muito bem conviver com os judeus das colônias. Antes da fundação de Israel, sempre convivemos pacificamente com os judeus. O radicalismo é causado pelos colonos mais fanáticos, aqueles que estão nas colônias por motivos ideológicos ou por fanatismo religioso. Estes terão que sair com o passar do tempo. Serão vencidos pela inutilidade de sua atitude.
Mundo – O sr. acusa Israel de não estar cumprindo o acordo. Que elementos o sr. tem para isso?
El EmIeh - O massacre de Hebron, por exemplo, mostrou que muitos no governo israelense não querem a paz. O assassino foi enterrado como herói.
É impossível que ele tenha agido sozinho, sem a ajuda de setores do Exército. Se Israel quer mesmo a paz, por qual razão não protege a população palestina?
Se o premiê Rabin é sincero ao condenar o atentado, como explicar que mais palestinos morreram depois do massacre do que no atentado propriamente dito?
Como explicar que os palestinos, e não os israelenses, estejam sendo submetidos a toque de recolher e a medidas disciplinares de guerra? É justo que as vítimas ainda sofram a segregação? Israel talvez seja o único Estado do mundo que usa o Exército contra a população civil. Ainda vigoram leis absurdas como a que determina a demolição da casa de qualquer palestino se algum membro da família, mesmo no caso de uma criança, for visto jogando pedras contra israelenses. E justo?
Mundo - Recoloca-se, então, a questão da oportunidade ou não do acordo de paz.
El EmIeh - Se o acordo não der certo, Israel terá sido o responsável. Os Estados Unidos enviaram uma carta à direção da OLP, em que ameaçam a OLP ao invés de exigir que Israel proteja os palestinos.
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