Crise na unidade italiana pode levar ex -comunistas ao poder.
A Itália realizou, em abril, um plebiscito que selou a sentença de morte do regime político vigente no pós- Guerra. A consulta foi precipitada pela “Operação Mãos Limpas”, que revelou prática de corrupção de quase 1.400 políticos e administradores.
O plebiscito aprovou, por vasta maioria, a reforma do sistema eleitoral, e causou a renúncia do gabinete de coalizão liderado por Giuliano Amato. O governo transitório deve preparar as próximas eleições gerais, que fecharão o ciclo aberto em 1947, quando o Partido Democrata- Cristão (PDC) assumiu a hegemonia política, relegando o Partido Comunista (PCI) à oposição.
O Estado italiano do pós- Guerra foi moldado pela hegemonia do PDC. Esse partido foi o eixo de todos os gabinetes que, durante a Guerra Fria, mantiveram o PCI fora do poder. Formação ligada por misteriosos laços ao Estado do Vaticano, a DC evoluiu como vértice de um regime clientelista, apoiado nos votos do Mezzogiorno (sul do país). Manipulando verbas públicas, a DC ligou-se às máfias sulistas e institucionalIzou a corrupção.
A dinâmica desse regime começou a esgotar-se há mais de 20 anos. O PCI rompeu com Moscou e adotou o eurocomunismo, tornando-se alternativa “moderada” de poder. Incapaz de manter maioria estável, a DC passou a governar à frente de coalizões multipartidárias. Em 1978, o assassinato do democrata-cristão Aldo Moro, pelo grupo terrorista Brigadas Vermelhas, liquidou a idéia, por ele encarnada, de uma sólida maioria DC-PCI (o “compromisso histórico”).
Nos anos 80, a Itália tornou-se a terceira maior economia da Europa, mas agravou- se a desigualdade norte-sul. Ao norte, grupos como a Liga Lombarda- mistura de neo-fascismo, racismo e populismo cresceram denunciando a corrupção dos políticos e propagando o ódio aos imigrantes pobres do sul. A “questão meridional” italiana gerava a sua imagem simétrica- uma “questão setentrional”.
A crise precipitou-se em 1989, com o fim da Guerra Fria. O PCI abandonou o comunismo, transformando-se em PDC (Partido Democrático da Esquerda). A DC, minada pelas investigações sobre a corrupção, viu abalada a sua hegemonia. As eleições parlamentares de abril de 1992 evidenciaram o crescimento do separatismo setentrional.
Depois, a cúpula da DC (incluindo Giulio Andreotti, sete vezes premiê) e aliados do Partido Socialista (entre eles, o líder Bettino Craxi) seriam derrubados pela “Operação Mãos Limpas”. Era o colapso do regime. Só a eventual vitória do PDS nas próximas eleições abre uma perspectiva de salvar a unidade italiana. Fina ironia da história.
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