Com o reconhecimento das dificuldades em levar adiante o projeto da Alca, Washington passou a ter como estratégia a formalização de acordos bilaterais com países ou grupos de países da América Latina.
Foi assim com o Chile, que firmou um tratado de livre comércio com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), e, mais recentemente, com países da América Central. Nesse contexto, nasceu o Mercado de Livre Comércio Estados Unidos-América Central conhecido pela sigla Cafta-DR (Central America Free Trade Agreement-Dominican Republic).
O novo bloco comercial deverá funcionar a partir de 1º de janeiro de 2006 e terá a participação de cinco países da América Central continental (Honduras, El Salvador, Guatemala, Nicarágua e Costa Rica), além da República Dominicana. Esses países possuem um mercado consumidor potencial de mais de 45 milhões de pessoas e absorvem apenas 2% das exportações totais dos Estados Unidos.
O PIB conjunto desses seis países corresponde a 0,5% do PIB dos Estados Unidos, configurando uma enorme assimetria econômica.
O objetivo principal do bloco é o de eliminar as tarifas e barreiras comerciais.
Logo de início, 80% das tarifas seriam extintas. A redução de barreiras ao comércio deve estimular os investimentos diretos americanos, com a implantação de fábricas voltadas para a montagem de produtos finais destinados ao mercado dos Estados Unidos, como ocorre com as maquiladoras no norte do México.
O interesse de Washington vai além do lado comercial, pois se trata de uma “obrigação moral e um interesse de segurança nacional em ajudar que prosperem as democracias nessa região”. Estão ainda vivas na lembrança dos estrategistas americanos os conflitos das décadas de 1970 e 1980, quando um movimento guerrilheiro de esquerda tomou o poder na Nicarágua e outros ameaçaram os governos conservadores de El Salvador e da Guatemala.
A “pacificação” aconteceu em momentos distintos: Nicarágua (1990), El Salvador (1992) e Guatemala (1995). Ao mesmo tempo, registraram-se avanços no processo de democratização que conduziram à instauração de governos eleitos por voto direto em todos os países da região. O novo contexto propiciou um renovado impulso de integração regional e reanimação das economias.
O Cafta, contudo, é mais que um pilar da “ordem americana” na América Central e no Caribe. O tratado de livre comércio é um elo na cadeia de acordos bilaterais conduzidos por Washington com a finalidade de isolar o Mercosul no cenário continental. O próximo passo nessa estratégia são as negociações comerciais entre os Estados Unidos e os países componentes da Comunidade Andina de Nações (CAN). No grupo andino, Colômbia, Peru e Equador revelam interesse num acordo bilateral com a superpotência. A Venezuela de Hugo Chávez deve permanecer à margem das negociações e a situação da Bolívia é incerta, em virtude da instabilidade política no país.
O isolamento do Mercosul não é, do ponto de vista de Washington, um fim em si mesmo. É um meio para forçar o Brasil e a Argentina a cederem às exigências americanas nas negociações da Alca.
Boletim Mundo n°6 Ano 13
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