quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

GEOPOLÍTICA E ECOLOGIA DOS MARES FECHADOS

Nelson Bacic Olic
Os mares fechados são superfícies líquidas que não possuem ligações com um outro mar ou oceano. Por tradição ou por sua dimensão, não são identificados como lagos.
Situados no interior dos continentes, são “regulados” por rios que neles deságuam e, em alguns casos, por águas de degelo que descem das vertentes circundantes. Os mares Morto, Cáspio e de Aral são exemplos típicos de mares fechados.
Situado entre Israel, a Cisjordânia e a Jordânia, o Mar Morto é famoso por estar localizado na maior depressão continental do mundo e por seu alto índice de salinidade. No último século, perdeu cerca de 300 km2 de superfície e seu nível continua baixando, devido ao uso da água dos rios que nele deságuam (especialmente o Jordão) e à elevada evaporação .
Para evitar que o mar desapareça, as partes interessadas – Autoridade Palestina, Israel e Jordânia – assinaram um acordo para “salvar” o mar. A idéia é desviar água do mar Vermelho para o mar Morto por um canal de 80 quilômetros. Essa água compensaria as perdas por evaporação e permitiria a manutenção da tradicional atividade turística.
Já o mar Cáspio localiza-se na Ásia Central e é dividido em três partes. Na parte norte, assenta-se sobre uma depressão absoluta com altitude média de 28 metros negativos. As porções central e sul apresentam profundidades bem maiores.
Por conta do menor volume e profundidade, e por estar junto a áreas continentais baixas, a porção norte é a mais vulnerável às variações de nível. É lá que deságua o rio Volga, o mais importante afluente.
Tudo o que acontece ao longo dessa bacia, onde estão as maiores concentrações urbano-industriais da Rússia, repercute sobre o mar.
Entre 1930 e 1978 registrou-se diminuição constante do nível das águas do Cáspio. Acreditou-se que essa era uma tendência irreversível e foram feitos planos que tomavam como pressuposto essa contínua baixa do seu nível. Após 1978, contudo, o nível do Cáspio se elevou em mais de três metros, inundando dezenas de quilômetros de terras. Nas áreas da costa norte os danos foram maiores, pois as condições do relevo determinam que um pequeno aumento do nível do mar provoque extensas inundações.
Ao longo do século XX, a soberania sobre o Cáspio foi compartilhada entre a União Soviética e o Irã. Com a desintegração da União Soviética, em 1991, o mar passou a banhar, além do litoral do Irã, terras da Rússia, do Cazaquistão, do Turcomenistão e do Azerbaijão. A descoberta de petróleo e gás na área do Cáspio tornou mais complexo o quadro geopolítico.
Tratados de 1940 definiram que a URSS teria o controle sobre 87% do Cáspio e o restante ficaria com o Irã. O acordo, que só tratava das águas superficiais, usou como critério a extensão da linha de costa.
Hoje, há interesses conflitantes entre os cinco países no que se refere à definição jurídica a ser aplicada, especialmente em relação à exploração dos recursos da rica plataforma continental. O contexto geopolítico que emergiu após o fim da União Soviética, a ausência de um estatuto jurídico reconhecido por todas as partes e o interesse na exploração dos recursos vêm “azedando” as relações entre os países da área.
Contudo, as tensões que cercam o Cáspio pouco significam se comparadas à crise que ameaça a própria existência do mar de Aral. Situado no coração Ásia Central, o Aral se estende sobre as terras áridas das antigas repúblicas soviéticas do Cazaquistão e do Usbequistão. Esse mar é alimentado pelos rios Amu Daria e Sir Daria. Ele foi vítima do planejamento ecologicamente irresponsável conduzido por Moscou.
A partir da década de 60, as autoridades da União Soviética deflagraram projetos de irrigação baseados no desvio das águas dos rios, especialmente o Amu Daria.
Milhões de hectares de terras foram “ganhos” para o cultivo do algodão. Em poucos anos, o Usbequistão se transformou num dos maiores produtores e exportadores do “ouro branco”. A contrapartida foi um dos maiores desastres ambientais de que se tem notícia.
Gradativamente, reduziu-se o fluxo de água do Amu Daria e, desde a segunda metade da década de 90, nenhuma gota de água do rio chega ao mar de Aral. A interrupção do fluxo de água, combinada com a forte evaporação, reduziu a área ocupada pelo mar em 65%.
O recuo das águas fez emergir um leito seco de milhares de hectares de terras desérticas, recobertas por sais tóxicos que os ventos dispersam por uma vasta região. A água residual do mar teve seu teor de sal aumentado, assim como a carga de resíduos químicos, fruto da utilização abusiva de adubos, pesticidas e outros produtos. Mais de um milhão de pessoas estão expostas à poluição e contaminação química, que afetam principalmente mulheres e crianças.
Programas de assistência desenvolvidos por organizações internacionais têm surtido pouco efeito. Contudo, pelo menos, servem como alerta à opinião pública para a situação dramática vivida por populações que foram vítimas de políticas econômicas absurdas postas em prática por governos autoritários.

Boletim Mundo n° 5 Ano 13

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